segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Rodando na roda

Está quase amanhecendo, cara. As damas da noite recolhem seu perfume com a luz do dia. Na sombra, sozinhas. envenenam a si próprias com loucas fantasias. Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro.
Dá minha jaqueta, cara, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.

(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

armadilha 2

e depois do afagar caiu(perto dela, sempre caindo) no sono.
e no sono - sonhou.

Sonhou que estava mais lúcido que nunca. Pois percebia que o afago da Vertigem nao lhe causava mais dor. O que o fruto da dor era o Medo.
Pois ele fazia questao de lembra-lo que, ao abraça-la, cairia. E ao cair, não conseguiria mais se levantar. Pois todos sabemos, a vertigem ajuda a cair... mas nunca a se levantar.

"Para onde voce foi, Medo?"

então acordou.
olhou para os lados, ainda entorpecido pelo sonho.
ela já havia ido embora, como de costume.

o dia estava nublado e abafado.
...não havia mais nada que o segurasse!

num grande impulso, levantou-se.

caminhou... caminhou, caminhou.

...

..

.

domingo, 13 de setembro de 2009

armadilha

...foi quando, de subito, e tarde demais para voltar, que reparara.
que, afinal de contas, não havia buscado a Vertigem.
... enfim, deu-se conta de que, na verdade, ela que o abraçara.

e agora, se pergunta novamente, enquanto devoram-lhe as visceras:

"(...) Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia(...)"

... não queria nem se levantar mais.


Deixou-se afagar...


...com um vigor impotente.