sexta-feira, 31 de julho de 2009

hortelã

Nada que não gostaria de dizer. Sério, aquilo me deixou meio preocupada, mas é como se nada do que eu falasse fosse adiantar. Repousou lentamente a mão direita na mesa, e com a esquerda levantou o copo e levou até a boca o líquido esverdeado(on the rocks). Um gota que quase escapou de seus lábios logo foi apreendida sem ser percebida. Depois olhou para a janela forçando uma segurança. Disse que só estava cansado.

- Não perguntei isso.

E minha cabeça girou. Seria legal imaginar que isso aconteceu porque ele colocou algo na minha bebida, mas não foi isso. Talvez na dele... pelo menos.
Deu uma leve tossida e olhou nos olhos. "Olhos nos olhos"
Depois um sorriso. Só para garantir que a certeza o confundisse de novo. A hortelã que flutuava e esverdeava afundou no copo.

- Nada que não possa ser dito.

Claro que não. Só não queria ter que falar aquilo pra ele. Mas confesso que me preocupou. Mesmo. Uma frase em inglês estava na ponta da língua, pronta pra ser dita.

- ...

- Você tem algo pra falar, eu sei.

- Bem que eu gostaria...

E ele foi embora. Olhei para a hortelã no fundo do copo e cantei com os lábios mudos:

"Hey, look at him! I'll never live that way..."
(Ei olhe pra ele! Eu nunca viverei desse jeito...)

O mensageiro dos ventos que ficava preso à porta do café tilintou com sua saída.


Keep on dreamin' boy,
'cause when you stop dreamin it's time to die.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

ausente

Tenho sentido um amor imenso nessa ultima semana.

Sinto falta dos aromas doces, dos perfumes
Do manjericão, da cebolinha, do agrião
Da canela, do café, da mirra
Da chuva...
Do cheirinho de alecrim!

Ai, sereno. Que ausente. Pelo menos posso dizer:
A noite cheira igual em todos os lugares.
Sabe, cheiro de lua? De estrela... de nuvens...

Meu amor tem sido esse: dos aromas das memórias.


carinho.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

lírica

Com olhos e sorrisos furtivos

Eu observo, em cada ponta, cada gesto

Suas palavras, amigos, desafios

Mas te digo: sou esperto

E incerto

Quantos ramos de sentimentos que surgem

E nada deles parece me servir

Como o tempero de uma nova tendência

Uma nova sensação, um novo saber

E parecem todos imaturos, verdes, nada certos

Não quero que combine

Basta servir

Eu observo, em cada ponta, cada gesto
Mas te adianto:
não ouço náuseas, torvelinhos, tensões
só quero sua beleza, tua paz
Tem que servir. E que me sirva!


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ma Memoire Sale

Lave
A minha memória suja neste rio de lama,
E não deixa mais o mínimo vestígio
Daquilo que
Me prende e que me cansa.

Cace,
Persiga-o em mim, é apenas em mim que ele vive,
E quando o tiver na extremidade do teu fuzil,
Não ouça se ele te implora,
Você sabe
Que ele deve morrer de uma segunda morte
Então,
Acaba com ele... outra vez.

Chore!
Eu tenho feito isso antes de você e não adiantou nada,
Quão bom é os soluços (de choro) inundarem as almofadas?
Eu tentei, eu tentei
Mas tenho
O coração seco e os olhos inchados
Mas tenho
O coração seco e os olhos inchados

Então queime!
Queima no momento em que se envolve na minha grande cama de gelo
A minha cama como uma banquisa que derrete quando você me entrelaça
E mais nada é triste
E mais nada é grave
Se tenho...
O teu corpo como uma torrente de lava
A minha memória suja neste rio de lama
Lave!

Lave!
A minha memória suja neste rio de lama
Lave!

(Les Chansons D'Amour Soundtrack)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Leveza

Você já amou
pela beleza do gesto?
Você já mordeu
a maçã com todos os dentes?
Pelo sabor do fruto,
a sua doçura e seu gesto
Já se perdeu algumas vezes?

Sim, eu já amei
Pela beleza do gesto.
Mas a maçã era dura,
e quebrei os dentes.
Essas paixões imaturas,
esses amores indigestos
Deixaram-me mal disposto algumas vezes.

Mas os amores que duram
Tornam os amantes exaustos
E o beijo deles demasiado maduro,
Apodrece-nos a língua.

Os amores passageiros,
têm febres fúteis
E o beijo demasiado verde
esfola-nos os lábios

Porque ao querer amar
pela beleza do gesto,
O verme da maçã
escorrega-nos entre os dentes
Ele roe-nos o coração,
o cérebro e o resto.
Esvazia-nos lentamente.

Mas quando ousamos amar
pela beleza do gesto,
Esse verme na maçã
que nos escorrega entre os dentes
Toca-nos o coração, o cérebro e deixa-nos
o seu perfume lá dentro

Os amores passageiros,
Fazem esforços inúteis.
As suas carícias efêmeras,
Cansa-nos o corpo.

Os amores que duram
Tornam os amantes menos belos.
As suas carícias usadas
Dão cabo de nós.

Tradução de As-tu Déjà Aimé (Les Chansons D'Amour Soundtrack)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

intimo

no exterior, nas bordas e nos contornos, camufla-se uma pequena vergonha.
no interior continua sensível, delicado, pronto pra descobrir o que novas entradas podem proporcionar.
e presente está o alvo e espesso para cobrir e proteger de novos infortúnios, e assim que possível, trazer paz de novo.
tá quentinho, mas pode confiar que vai ficar tudo bem.

domingo, 12 de julho de 2009

qual é o destino?

Postando essa, da Adriana Calcanhotto:
(ai dessas músicas que mexem comigo, rs)


Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

quem tem medo?

aquele ritmo antigo com novo
uma mistura diferente, um vazio preenchendo o completo
senti isso invadindo minha mente. como se me perseguisse
estava lá, escondido! estava só me esperando.
embaixo da folha, da flor, da estrela, da agonia
"estou aqui te esperando"
é só pra te fazer pirar. uma existência que te espera
te faz pensar no que será que podíamos estar a fazer agora, ou no passado
mas não dá vontade de voltar. "não quero voltar se já esperei até agora"
e o agora?
agora vai. volta. volta! volta...!

volta que não espero mais não.