Nunca fiz isso antes, e queria exercitar diálogo.
Inspirei-me um pouco nos textos que tenho lido e quis brincar um pouco de escrever uma peça. A ideia é de duas pessoas atormentadas que se perdem em muitos assuntos e questões do passado. Então não quis seguir uma linearidade do tema... Alias, nem quis seguir um tema específico. Queria muito que comentassem todo tipo de observação e crítica. E que sejam bem sinceros, i can handle.
ps: me responsabilizo por tudo o que for escrito daqui pra frente, hehe. Comentem, por favor! (também me responsabilizo por erros gramaticais, paciência)
VERTIGEM
SKETCH
CENA: Um café em uma cidade metropolitana. Dois amigos, um homem e uma mulher, muito agitados, conversam no canto de uma das mesas. Deve ser interpretada como se já estivessem ali conversando e o assunto já começado. A moça tomava um expresso e o rapaz um capuccino italiano e fumava um cigarro. Há apenas uma mesa no palco, com as cadeiras e seus respectivos objetos.
MOÇA: ...Mas ele estava com tantas coisas pra fazer! Tantas coisas para ler, escrever, compor, ouvir, sonhar...
RAPAZ: Entendo. Do jeito que você fala, é como se ele se perdesse com tantas possibilidades.
MOÇA: Talvez. Mas deixemos isso de lado. Foi legal, encontrei-o em um momento bem produtivo. Acabou que fiquei inspirada também, foi bem divertido!
RAPAZ: Gostaria de ser menos cético. Queria conseguir me perder assim...
MOÇA: Tive que insistir muito para conseguir um momento legal pra conversar. Imagine. Mas sobre o que estamos discutindo?
RAPAZ: Sobre coisas diferentes. Na dinâmica louca, na reciprocidade, na troca! Que tal?
MOÇA: Não, é mais do que isso. Acho que é porque eu fico muito emocionada quando me encontro com pessoas assim. Eu não me sinto tão só...
RAPAZ: Ah já sei. Você também está perdida?
MOÇA: Que absurdo. Eu, perdida! Olhe só. Eu! Eu! Sai dessa. Não mesmo, que nada.
(risadas)
RAPAZ: De onde veio isso? (olha pros lados)
MOÇA: (angustiada) Acho que da tevê. (olhando pros lados no café, chateada)
RAPAZ: O que foi? (preocupação)
MOÇA: (desconversando) ...E-eu não gosto de televisões em lugares como cafés ou restaurantes. É muito chato. Mas então, voltando ao assunto... (interrompida)
RAPAZ: Eu conheci uma pessoa assim também. E, enquanto isso, estou mais preocupado com o fato de que tenho que encomendar uma cama nova. Imagine, uma cama nova, quero minha cama quentinha. Fazer o que?
MOÇA: Sei lá. Com o tempo ela esquenta de novo. (suspira)
RAPAZ: Não! Não dá, eu quero a cama quebrada e quentinha. Não sei se consigo esquentar coisas novas, duras e com cheiro de plástico. Tenho medo de coisas novas, duras e com cheiro de plástico.
MOÇA: Plástico cheira melhor que muita coisa.
RAPAZ: Pare de estragar a poesia da coisa. Não percebeu o valor simbólico que atribuí e estou querendo transmitir? Que coisa, viu...
MOÇA: Acho que também sou meio cética. Sério, camas não são interessantes.
RAPAZ: Cara... não, você não é cética.
MOÇA: Claro que sou!
RAPAZ: Não, você não é.
MOÇA: Cara... veja só, eu não fico pensando em esquentar camas.
RAPAZ: Cê não tá sacando. Eu sou o cara mais desacreditado da vida perto de você. Você vê um valor até nas entrelinhas do plástico!
MOÇA: Que nada! Mentira, nada disso, nunca! Não vamos concordar. E por mais que você diga que é desacreditado, é todo perdidão também.
RAPAZ: Eu gostei do também. Porque você também se inclui nisso. Preste atenção.
MOÇA: Veja, é sério, não estou perdida. Que coisa.
(ouve-se o barulho de uma porta abrindo. os dois olham para a direita.)
MOÇA: Ai meu deus. Estou com a Vertigem, com a Vertigem!
RAPAZ: Calma, não esquenta, relaxa que ela passa sem te notar. Assopra, assopra.
MOÇA: Estou ouvindo os violinos, juro que consigo ouví-los! Não estou me sentindo bem... tá tudo voltando, consigo ver os lírios, os cactos, as orquídeas, a entrada pro cinema, a ponte, a grama, o chalé, o vinho, o violão canhoto, ai meu deus...
RAPAZ: Calma que você vai cair! Não faça isso, não faz, não faz!
Vertigem: Oi gente!
(a Moça se levanta no mesmo momento e abraça a Vertigem. O Rapaz observa a cena, perplexo)
MOÇA: Aaaah! Eu tava sentindo tanto sua falta. Ah minha querida, onde você tava? Tenho tanta coisa pra te contar.
(o Rapaz cobre a testa e os olhos com as mãos e abaixa a cabeça)
Vertigem: Posso me sentar?
(o Rapaz e a Moça se entreolham. Ele parece aborrecido, e ela, resignada)
MOÇA: (cabisbaixa e vacilante) ... claro.
RAPAZ: Olha, desculpa interromper. Preciso ir.
Vertigem: Sério?
MOÇA: Então... tudo bem. Até a próxima...
(O rapaz sai de cena, correndo)
MOÇA: (falando sozinha) Aaaah, cafezinho, barquinho, filme, sábado de manhã, bossa nova, chico buarque, papagaio, pirata, docinho, carinho...
Vertigem: Eu sei que você sabe. Você quer cair em mim! Vem, cai! Cai!
MOÇA: ... chinelo, vinho, travesseiro, colchão, barraca, cabana, viagem, saudade...
Vertigem: Cai, cai...
(a moça começa a se entregar nos braços da Vertigem, que a aperta contra o peito)
MOÇA: o sono, o atraso, o caminhar, as poesias, a angústia...
Vertigem: Mais um pouco...
MOÇA: o Medo... lembra dele?
Vertigem: Claro, gente boa.
(o Rapaz entra correndo com uma arma, ofegante)
RAPAZ: Você sabe, não sabe!? Sabe sim, sabe sim. Que ta fazendo isso sozinha! Não vai conseguir se levantar. Ela não vai te ajudar.
Vertigem: Alguem te chamou? Saia!
MOÇA: O vento, a chuva, a dist...
RAPAZ: (interrompe) Eu admito, eu estou perdido, estou perdido! Eu acredito, eu sonho, eu tenho medo, eu sinto, eu amo, eu espero, não estou lúcido e nem sequer consigo dormir!
Vertigem: Ah, de novo não. Já nos conhecemos?
(Ele atira na Vertigem. A moça olha para o rapaz e se recompõe)
MOÇA: Olha, que legal. O que você tem feito ultimamente? (senta-se se novo na mesa)
RAPAZ: (assustado) Eu... Tantas coisas para ler, escrever, compor, ouvir, sonhar...
MOÇA: Que legal, que legal... Desde quando está aqui?
RAPAZ: Acabei de chegar. Sabia que aquela cama quebrou? Preciso de uma nova, me ajuda a comprar?
MOÇA: Sim, deixa só eu pedir meu café.
(Trevas)
Voz: Nada, absolutamente nada. Sem sentido, vazio, fim.
(ai coragem cretina de postar essas coisas aqui)