Olhou para cima: lá estava o céu.
Era fim de tarde de domingo e ventava bastante. Tudo se alaranjava, assim como sua pele morena. Respirou fundo e pensou se era mesmo sábio ter certeza, quando a única coisa certa que se sabe é que tudo vai mudar, todo dia, toda hora. Inclusive sua escolha.
Então pensou: até as certezas mudam.
Tinha cortado o cabelo naquele dia. Ela dizia que gostava dele grande, mas quis mudar. Cortou mesmo assim.
O pouco da luz poente que ainda restava iluminou seus braços e sua nuca, agora descoberta, e ele brilhou feito cobre. Um avião passava e dava para ouvir o barulho se aproximando, depois diminuindo.
Notou o avião passar, depois olhou para o relógio.
Cinco e quinze.
Logo então reparou que era naquele voo mesmo. Ela estava nele.
O avião se foi junto com o sol.
E o sol parou de refletir na pele a sua luz.
“Promete que não corta o cabelo?”
O vento soprava ainda mais forte.
“Diz que nunca vai me esquecer”
As estrelas começaram a aparecer.
“Prometa que nunca vai mudar”
O céu ficou escuro. Tudo girava...
“Diz que não vai parar de sonhar”
Então, finalmente, ele acordou.
Olhou para cima: lá estava o teto. Laranja.
Passou as mãos no cabelo como estava acostumado a fazer quando ele ainda estava comprido.
Deu-se conta então de que realmente tinha cortado.
disparates IV
Há 9 anos
Um comentário:
O sonho é o alicerce da realidade.
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