domingo, 6 de dezembro de 2009

Watching and Waiting



Você ainda consegue se jogar como antes?
Ainda consegue pisar com segurança?
Consegue caminhar sem se perder?
Quem souber, por favor, guie-me novamente.
Observar e Esperar.
Disso eu tenho certeza: está em minhas mãos.
Minha única e pura certeza.
Minha cautela.
Estou sempre pronta.
Sem ressentimentos, mas sempre olhando para trás.
Preciso enxergar direito.
Preciso me encontrar. (rir pra não chorar?)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

jardim




Aqui. Nós.
Só isso.
Tudo isso.

Eu espero. Nunca tive pressa.
E o girassol não pode desviar seus olhos da luz.
Você me ensinou isso.
Estou aprendendo a lidar com as raízes
e com a terra úmida e gelada.
Só tenho medo das minhocas.

Tem que ser assim.
Tudo, só, sós.
Porque eu não sei perder.
Você também me ensinou isso.

Não saio de mim
que odeio me perder.
Olho pra lá e pra cá
e outros olhos me cegam.
Outras vozes me calam
e outros sorriso me sufocam.

Vou ficar por aqui mesmo...
Quero pisar sem medo de cair.
Já te ensinei a voar?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Ocre




Não dá, não consigo.
Não dá pra ler por muito tempo.
É automático, é instantâneo, é impulsivo, quase inconsciente.

Fecho os olhos.


E eu que sempre pensei que nunca fiz questão de ser o único...

... mas ela colocou isso na minha cabeça. Sou o único.
Mudei sua vida. Seu olhar, seu gesto.
Agora me pego lendo que ela escrevia antes de eu existir na vida dela e me sinto perdido a cada palavra de carinho que me surge.
Sinto uma ânsia amarga de amor digerido subindo na minha garganta. Quase posso ver a cor. É ocre. É resto. É tóxico.

Quem precisa disso?

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Rodando na roda

Está quase amanhecendo, cara. As damas da noite recolhem seu perfume com a luz do dia. Na sombra, sozinhas. envenenam a si próprias com loucas fantasias. Divida essa sua juventude estúpida com a gatinha ali do lado, meu bem. Eu vou embora sozinha. Eu tenho um sonho, eu tenho um destino, e se bater o carro e arrebentar a cara toda saindo daqui. continua tudo certo. Fora da roda, montada na minha loucura. Parada pateta ridícula porra-louca solitária venenosa. Pós-tudo, sabe como? Darkérrima, modernésima, puro simulacro.
Dá minha jaqueta, cara, que faz um puta frio lá fora e quando chega essa hora da noite eu me desencanto. Viro outra vez aquilo que sou todo dia, fechada sozinha perdida no meu quarto, longe da roda e de tudo: uma criança assustada.

(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

armadilha 2

e depois do afagar caiu(perto dela, sempre caindo) no sono.
e no sono - sonhou.

Sonhou que estava mais lúcido que nunca. Pois percebia que o afago da Vertigem nao lhe causava mais dor. O que o fruto da dor era o Medo.
Pois ele fazia questao de lembra-lo que, ao abraça-la, cairia. E ao cair, não conseguiria mais se levantar. Pois todos sabemos, a vertigem ajuda a cair... mas nunca a se levantar.

"Para onde voce foi, Medo?"

então acordou.
olhou para os lados, ainda entorpecido pelo sonho.
ela já havia ido embora, como de costume.

o dia estava nublado e abafado.
...não havia mais nada que o segurasse!

num grande impulso, levantou-se.

caminhou... caminhou, caminhou.

...

..

.

domingo, 13 de setembro de 2009

armadilha

...foi quando, de subito, e tarde demais para voltar, que reparara.
que, afinal de contas, não havia buscado a Vertigem.
... enfim, deu-se conta de que, na verdade, ela que o abraçara.

e agora, se pergunta novamente, enquanto devoram-lhe as visceras:

"(...) Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia(...)"

... não queria nem se levantar mais.


Deixou-se afagar...


...com um vigor impotente.

domingo, 30 de agosto de 2009

dot

Estou vazio, rigorosamente vazio dessa possibilidade
tão feliz que é ser delicado, que é olhar para
as coisas com beleza e senti-las desse modo, porque
tudo em mim está cinzento dentro e a doer
como um irremovível tumor a apodrecer-me as
vísceras. Estou vazio e não tenho outra realidade
mais clara e nítida, tão vertical e concreta. Sou
um horizonte que já foi, a solidão funérea de um
caminho que ninguém percorre e tão desprezível
me é essa maneira de viver que não há para ela
senão uma forma desprezível de morrer: acobar-
damente fraco, infalivelmente demente.
(WHITE, 1996, p. 59/60)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O Medo de Amar é o Medo de Ser Livre

O medo de amar é o medo de ser
Livre para o que der e vier
Livre para sempre estar onde o justo estiver
O medo de amar é o medo de ter
De a todo momento escolher
Com acerto e precisão a melhor direção
O sol levantou mais cedo e quis
Em nossa casa fechada entrar
Prá ficar
O medo de amar é não arriscar
Esperando que façam por nós
O que é nosso dever: recusar o poder
O sol levantou mais cedo e cegou
O medo nos olhos de quem foi ver
Tanta luz!

(Elis Regina)

domingo, 23 de agosto de 2009

Vento de Maio

VENTO DE MAIO (Elis Regina)

Vento de raio
Rainha de maio
Estrela cadente

Chegou de repente
O fim da viagem
Agora já não dá mais
Pra voltar atrás

Rainha de maio
Valeu o teu pique
Apenas para chover
No meu pique-nique

Assim meu sapato
Coberto de barro
Apenas pra não parar
Nem voltar atrás

Rainha de maio
Valeu a viagem
Agora já não dá mais...

Nisso eu escuto no rádio do carro a nossa canção
(Vento solar e estrelas do mar)
Sol girassol e meus olhos ardendo de tanto cigarro
E quase que eu me esqueci que o tempo não pára nem vai esperar

Vento de maio
Rainha dos raios de sol
Vá no teu pique
Estrela cadente até nunca mais
Não te maltrates
Nem tentes voltar o que não tem mais vez

Nem lembro teu nome nem sei
Estrela qualquer lá no fundo do mar
Vento de maio rainha dos raios de sol

Rainha de maio valeu o teu pique
Apenas para chover no meu pique-nique
Assim meu sapato coberto de barro
Apenas pra não parar nem voltar atrás

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Vertigem (sketch)

Nunca fiz isso antes, e queria exercitar diálogo.
Inspirei-me um pouco nos textos que tenho lido e quis brincar um pouco de escrever uma peça. A ideia é de duas pessoas atormentadas que se perdem em muitos assuntos e questões do passado. Então não quis seguir uma linearidade do tema... Alias, nem quis seguir um tema específico. Queria muito que comentassem todo tipo de observação e crítica. E que sejam bem sinceros, i can handle.
ps: me responsabilizo por tudo o que for escrito daqui pra frente, hehe. Comentem, por favor! (também me responsabilizo por erros gramaticais, paciência)


VERTIGEM
SKETCH

CENA: Um café em uma cidade metropolitana. Dois amigos, um homem e uma mulher, muito agitados, conversam no canto de uma das mesas. Deve ser interpretada como se já estivessem ali conversando e o assunto já começado. A moça tomava um expresso e o rapaz um capuccino italiano e fumava um cigarro. Há apenas uma mesa no palco, com as cadeiras e seus respectivos objetos.

MOÇA: ...Mas ele estava com tantas coisas pra fazer! Tantas coisas para ler, escrever, compor, ouvir, sonhar...

RAPAZ: Entendo. Do jeito que você fala, é como se ele se perdesse com tantas possibilidades.

MOÇA: Talvez. Mas deixemos isso de lado. Foi legal, encontrei-o em um momento bem produtivo. Acabou que fiquei inspirada também, foi bem divertido!

RAPAZ: Gostaria de ser menos cético. Queria conseguir me perder assim...

MOÇA: Tive que insistir muito para conseguir um momento legal pra conversar. Imagine. Mas sobre o que estamos discutindo?

RAPAZ: Sobre coisas diferentes. Na dinâmica louca, na reciprocidade, na troca! Que tal?

MOÇA: Não, é mais do que isso. Acho que é porque eu fico muito emocionada quando me encontro com pessoas assim. Eu não me sinto tão só...

RAPAZ: Ah já sei. Você também está perdida?

MOÇA: Que absurdo. Eu, perdida! Olhe só. Eu! Eu! Sai dessa. Não mesmo, que nada.

(risadas)

RAPAZ: De onde veio isso? (olha pros lados)

MOÇA: (angustiada) Acho que da tevê. (olhando pros lados no café, chateada)

RAPAZ: O que foi? (preocupação)

MOÇA: (desconversando) ...E-eu não gosto de televisões em lugares como cafés ou restaurantes. É muito chato. Mas então, voltando ao assunto... (interrompida)

RAPAZ: Eu conheci uma pessoa assim também. E, enquanto isso, estou mais preocupado com o fato de que tenho que encomendar uma cama nova. Imagine, uma cama nova, quero minha cama quentinha. Fazer o que?

MOÇA: Sei lá. Com o tempo ela esquenta de novo. (suspira)

RAPAZ: Não! Não dá, eu quero a cama quebrada e quentinha. Não sei se consigo esquentar coisas novas, duras e com cheiro de plástico. Tenho medo de coisas novas, duras e com cheiro de plástico.

MOÇA: Plástico cheira melhor que muita coisa.

RAPAZ: Pare de estragar a poesia da coisa. Não percebeu o valor simbólico que atribuí e estou querendo transmitir? Que coisa, viu...

MOÇA: Acho que também sou meio cética. Sério, camas não são interessantes.

RAPAZ: Cara... não, você não é cética.

MOÇA: Claro que sou!

RAPAZ: Não, você não é.

MOÇA: Cara... veja só, eu não fico pensando em esquentar camas.

RAPAZ: Cê não tá sacando. Eu sou o cara mais desacreditado da vida perto de você. Você vê um valor até nas entrelinhas do plástico!

MOÇA: Que nada! Mentira, nada disso, nunca! Não vamos concordar. E por mais que você diga que é desacreditado, é todo perdidão também.

RAPAZ: Eu gostei do também. Porque você também se inclui nisso. Preste atenção.

MOÇA: Veja, é sério, não estou perdida. Que coisa.

(ouve-se o barulho de uma porta abrindo. os dois olham para a direita.)

MOÇA: Ai meu deus. Estou com a Vertigem, com a Vertigem!

RAPAZ: Calma, não esquenta, relaxa que ela passa sem te notar. Assopra, assopra.

MOÇA: Estou ouvindo os violinos, juro que consigo ouví-los! Não estou me sentindo bem... tá tudo voltando, consigo ver os lírios, os cactos, as orquídeas, a entrada pro cinema, a ponte, a grama, o chalé, o vinho, o violão canhoto, ai meu deus...

RAPAZ: Calma que você vai cair! Não faça isso, não faz, não faz!

Vertigem: Oi gente!

(a Moça se levanta no mesmo momento e abraça a Vertigem. O Rapaz observa a cena, perplexo)

MOÇA: Aaaah! Eu tava sentindo tanto sua falta. Ah minha querida, onde você tava? Tenho tanta coisa pra te contar.

(o Rapaz cobre a testa e os olhos com as mãos e abaixa a cabeça)

Vertigem: Posso me sentar?

(o Rapaz e a Moça se entreolham. Ele parece aborrecido, e ela, resignada)

MOÇA: (cabisbaixa e vacilante) ... claro.

RAPAZ: Olha, desculpa interromper. Preciso ir.

Vertigem: Sério?

MOÇA: Então... tudo bem. Até a próxima...

(O rapaz sai de cena, correndo)

MOÇA: (falando sozinha) Aaaah, cafezinho, barquinho, filme, sábado de manhã, bossa nova, chico buarque, papagaio, pirata, docinho, carinho...

Vertigem: Eu sei que você sabe. Você quer cair em mim! Vem, cai! Cai!

MOÇA: ... chinelo, vinho, travesseiro, colchão, barraca, cabana, viagem, saudade...

Vertigem: Cai, cai...

(a moça começa a se entregar nos braços da Vertigem, que a aperta contra o peito)

MOÇA: o sono, o atraso, o caminhar, as poesias, a angústia...

Vertigem: Mais um pouco...

MOÇA: o Medo... lembra dele?

Vertigem: Claro, gente boa.

(o Rapaz entra correndo com uma arma, ofegante)

RAPAZ: Você sabe, não sabe!? Sabe sim, sabe sim. Que ta fazendo isso sozinha! Não vai conseguir se levantar. Ela não vai te ajudar.

Vertigem: Alguem te chamou? Saia!

MOÇA: O vento, a chuva, a dist...

RAPAZ: (interrompe) Eu admito, eu estou perdido, estou perdido! Eu acredito, eu sonho, eu tenho medo, eu sinto, eu amo, eu espero, não estou lúcido e nem sequer consigo dormir!

Vertigem: Ah, de novo não. Já nos conhecemos?

(Ele atira na Vertigem. A moça olha para o rapaz e se recompõe)

MOÇA: Olha, que legal. O que você tem feito ultimamente? (senta-se se novo na mesa)

RAPAZ: (assustado) Eu... Tantas coisas para ler, escrever, compor, ouvir, sonhar...

MOÇA: Que legal, que legal... Desde quando está aqui?

RAPAZ: Acabei de chegar. Sabia que aquela cama quebrou? Preciso de uma nova, me ajuda a comprar?

MOÇA: Sim, deixa só eu pedir meu café.

(Trevas)

Voz: Nada, absolutamente nada. Sem sentido, vazio, fim.

(ai coragem cretina de postar essas coisas aqui)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

círculo

Não que estivesse tentando enganar a si mesmo. Não podia, não dava, tinha vergonha. Olhava para os lados e tudo o que estava ao seu redor parecia etéreo. Alguns objetos, alguns signos e substantivos abstratos, que antes tinham um valor incalculável, agora mais pareciam bugigangas. Artefatos para deixá-lo lúcido de seu objetivo. Coisas que o deixavam pleno de seu desejo.
"Você tem que fazer isso, continue fazendo, não pode parar"
Era isso o que costumavam dizer. E estava presente em qualquer lugar.
Mas agora, tudo lhe parecia tão falso, que para alguem que precisava de simbolos, objetos para se sentir motivado, via-se como um verdadeiro estrangeiro. Como se não pertencesse àquele lugar.
E estando sozinho, sua angústia tapava qualquer visão para outros valores. O que poderia fazer? Nem seu corpo o obedecia mais...
Passou então a desejar coisas as quais não poderia alcançar. Objetos de fuga.
Logo percebeu o quando sua existência era frágil. E como podia desistir tão fácil.
Até que...

"Aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio."


Lembrou-se do que estava precisando. Aliviou-se.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

sem dó nem piedade

Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo. E que "descanso" me dás
Depois das lidas. Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.

... Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?

(Hilda Hilst)

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A Partida

Olhou para cima: lá estava o céu.
Era fim de tarde de domingo e ventava bastante. Tudo se alaranjava, assim como sua pele morena. Respirou fundo e pensou se era mesmo sábio ter certeza, quando a única coisa certa que se sabe é que tudo vai mudar, todo dia, toda hora. Inclusive sua escolha.
Então pensou: até as certezas mudam.
Tinha cortado o cabelo naquele dia. Ela dizia que gostava dele grande, mas quis mudar. Cortou mesmo assim.
O pouco da luz poente que ainda restava iluminou seus braços e sua nuca, agora descoberta, e ele brilhou feito cobre. Um avião passava e dava para ouvir o barulho se aproximando, depois diminuindo.
Notou o avião passar, depois olhou para o relógio.
Cinco e quinze.
Logo então reparou que era naquele voo mesmo. Ela estava nele.
O avião se foi junto com o sol.
E o sol parou de refletir na pele a sua luz.
Promete que não corta o cabelo?”
O vento soprava ainda mais forte.
Diz que nunca vai me esquecer
As estrelas começaram a aparecer.
Prometa que nunca vai mudar
O céu ficou escuro. Tudo girava...

Diz que não vai parar de sonhar

Então, finalmente, ele acordou.
Olhou para cima: lá estava o teto. Laranja.
Passou as mãos no cabelo como estava acostumado a fazer quando ele ainda estava comprido.
Deu-se conta então de que realmente tinha cortado.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

hortelã

Nada que não gostaria de dizer. Sério, aquilo me deixou meio preocupada, mas é como se nada do que eu falasse fosse adiantar. Repousou lentamente a mão direita na mesa, e com a esquerda levantou o copo e levou até a boca o líquido esverdeado(on the rocks). Um gota que quase escapou de seus lábios logo foi apreendida sem ser percebida. Depois olhou para a janela forçando uma segurança. Disse que só estava cansado.

- Não perguntei isso.

E minha cabeça girou. Seria legal imaginar que isso aconteceu porque ele colocou algo na minha bebida, mas não foi isso. Talvez na dele... pelo menos.
Deu uma leve tossida e olhou nos olhos. "Olhos nos olhos"
Depois um sorriso. Só para garantir que a certeza o confundisse de novo. A hortelã que flutuava e esverdeava afundou no copo.

- Nada que não possa ser dito.

Claro que não. Só não queria ter que falar aquilo pra ele. Mas confesso que me preocupou. Mesmo. Uma frase em inglês estava na ponta da língua, pronta pra ser dita.

- ...

- Você tem algo pra falar, eu sei.

- Bem que eu gostaria...

E ele foi embora. Olhei para a hortelã no fundo do copo e cantei com os lábios mudos:

"Hey, look at him! I'll never live that way..."
(Ei olhe pra ele! Eu nunca viverei desse jeito...)

O mensageiro dos ventos que ficava preso à porta do café tilintou com sua saída.


Keep on dreamin' boy,
'cause when you stop dreamin it's time to die.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

ausente

Tenho sentido um amor imenso nessa ultima semana.

Sinto falta dos aromas doces, dos perfumes
Do manjericão, da cebolinha, do agrião
Da canela, do café, da mirra
Da chuva...
Do cheirinho de alecrim!

Ai, sereno. Que ausente. Pelo menos posso dizer:
A noite cheira igual em todos os lugares.
Sabe, cheiro de lua? De estrela... de nuvens...

Meu amor tem sido esse: dos aromas das memórias.


carinho.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

lírica

Com olhos e sorrisos furtivos

Eu observo, em cada ponta, cada gesto

Suas palavras, amigos, desafios

Mas te digo: sou esperto

E incerto

Quantos ramos de sentimentos que surgem

E nada deles parece me servir

Como o tempero de uma nova tendência

Uma nova sensação, um novo saber

E parecem todos imaturos, verdes, nada certos

Não quero que combine

Basta servir

Eu observo, em cada ponta, cada gesto
Mas te adianto:
não ouço náuseas, torvelinhos, tensões
só quero sua beleza, tua paz
Tem que servir. E que me sirva!


sexta-feira, 17 de julho de 2009

Ma Memoire Sale

Lave
A minha memória suja neste rio de lama,
E não deixa mais o mínimo vestígio
Daquilo que
Me prende e que me cansa.

Cace,
Persiga-o em mim, é apenas em mim que ele vive,
E quando o tiver na extremidade do teu fuzil,
Não ouça se ele te implora,
Você sabe
Que ele deve morrer de uma segunda morte
Então,
Acaba com ele... outra vez.

Chore!
Eu tenho feito isso antes de você e não adiantou nada,
Quão bom é os soluços (de choro) inundarem as almofadas?
Eu tentei, eu tentei
Mas tenho
O coração seco e os olhos inchados
Mas tenho
O coração seco e os olhos inchados

Então queime!
Queima no momento em que se envolve na minha grande cama de gelo
A minha cama como uma banquisa que derrete quando você me entrelaça
E mais nada é triste
E mais nada é grave
Se tenho...
O teu corpo como uma torrente de lava
A minha memória suja neste rio de lama
Lave!

Lave!
A minha memória suja neste rio de lama
Lave!

(Les Chansons D'Amour Soundtrack)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Leveza

Você já amou
pela beleza do gesto?
Você já mordeu
a maçã com todos os dentes?
Pelo sabor do fruto,
a sua doçura e seu gesto
Já se perdeu algumas vezes?

Sim, eu já amei
Pela beleza do gesto.
Mas a maçã era dura,
e quebrei os dentes.
Essas paixões imaturas,
esses amores indigestos
Deixaram-me mal disposto algumas vezes.

Mas os amores que duram
Tornam os amantes exaustos
E o beijo deles demasiado maduro,
Apodrece-nos a língua.

Os amores passageiros,
têm febres fúteis
E o beijo demasiado verde
esfola-nos os lábios

Porque ao querer amar
pela beleza do gesto,
O verme da maçã
escorrega-nos entre os dentes
Ele roe-nos o coração,
o cérebro e o resto.
Esvazia-nos lentamente.

Mas quando ousamos amar
pela beleza do gesto,
Esse verme na maçã
que nos escorrega entre os dentes
Toca-nos o coração, o cérebro e deixa-nos
o seu perfume lá dentro

Os amores passageiros,
Fazem esforços inúteis.
As suas carícias efêmeras,
Cansa-nos o corpo.

Os amores que duram
Tornam os amantes menos belos.
As suas carícias usadas
Dão cabo de nós.

Tradução de As-tu Déjà Aimé (Les Chansons D'Amour Soundtrack)

segunda-feira, 13 de julho de 2009

intimo

no exterior, nas bordas e nos contornos, camufla-se uma pequena vergonha.
no interior continua sensível, delicado, pronto pra descobrir o que novas entradas podem proporcionar.
e presente está o alvo e espesso para cobrir e proteger de novos infortúnios, e assim que possível, trazer paz de novo.
tá quentinho, mas pode confiar que vai ficar tudo bem.

domingo, 12 de julho de 2009

qual é o destino?

Postando essa, da Adriana Calcanhotto:
(ai dessas músicas que mexem comigo, rs)


Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!

Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...

Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...

Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...

Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?

Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...

quem tem medo?

aquele ritmo antigo com novo
uma mistura diferente, um vazio preenchendo o completo
senti isso invadindo minha mente. como se me perseguisse
estava lá, escondido! estava só me esperando.
embaixo da folha, da flor, da estrela, da agonia
"estou aqui te esperando"
é só pra te fazer pirar. uma existência que te espera
te faz pensar no que será que podíamos estar a fazer agora, ou no passado
mas não dá vontade de voltar. "não quero voltar se já esperei até agora"
e o agora?
agora vai. volta. volta! volta...!

volta que não espero mais não.